segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Montanha-russa emocional

Escrevo-lhes, desta vez, de um novo apartamento! Mas primeiro é importante explicar o título dessa postagem. Ontem, pouco depois de sair de casa para visitar mais algumas 'doppias', vi um bando de gente correndo pela cidade em fila, vestindo camisas que diziam 'Race For The Cure'. Mesmo achando que a corrida buscava a cura para outra doença que não o câncer de mama, a grande quantidade de pessoas de várias idades unidas por um objetivo comum e tão respeitável (somado talvez ao fator 'distância de amigos e família') trouxe algumas lágrimas aos meus olhos.

Sentimentos do momento: esperança, comoção.

Pouco mais tarde, antes mesmo de chegar ao quarto que iria visitar, recebi um telefonema do inquilino do primeiro apartamento que visitei no dia anterior. Depois da minha confirmação que ainda não tinha encontrado um lugar pra morar, combinamos de nos encontrar no apartamento mais tarde, para que eu pudesse conhecer meu colega de quarto em potencial.

Sentimentos do momento: entusiasmo, euforia.

Chegando lá, eis que vejo junto ao italiano um chinês que não fala quase nada de inglês e menos ainda de italiano. Conversei de novo com o rapaz que estava alugando o quarto, o preço era bom e o local também. Combinamos tudo direitinho, decidimos que eu poderia me mudar no dia mesmo, eu disse 'até logo!', desci as escadas, fechei o portão e comecei a por um pé na frente do outro.

Sentimento do momento: medo.

Medo, pela primeira vez desde que eu soube que tinha passado no intercâmbio. Em seguida, veio um certo desespero. Voltei pra 'casa', recorri aos amigos (novos e velhos, todos disseram para não me preocupar), fiz as malas, enrolei na saída do prédio e comecei a voltar para o apartamento novo (sempre com um PUTA frio na barriga e com a cabeça a mil, tentando chegar a alguma conclusão sobre o que seria melhor pra mim). Por se tratar de um sentimento inédito, não sabia se sentia apenas um medo do desconhecido ou se meu instinto estava tentando me dizer alguma coisa. Cheguei, me instalei mais ou menos, conversei com a família por Skype e comecei a sentir que a situação não era um dragão de sete cabeças. Uma ida à Pizzeria com os amigos, algum vinho e boas horas de sono depois, acordei hoje muito mais tranquilo.

Terminei de organizar minhas coisas (até que enfim tenho um armário!) e 'conversei' um pouco com o chinês, acho que vamos nos dar bem. Fomos juntos ao supermercado e NOSSA, eu fiquei que nem uma barata tonta lá dentro! Tem certas coisas que a gente não aprende na aula de italiano e tinha várias delas na minha frente de uma vez só! Logicamente, gastei muito mais tempo do que teria gasto no Brasil, mas teve todo um processo de familiarização. Quem me conhece bem veria que minhas compras foram bem 'seguras', mas das próximas vezes eu arrisco mais (quando eu tiver uma noção melhor do que é fazer compra em euro também). O legal é que o item mais caro da minha compra custou €2,55 (um amaciante de 2 litros).

Pra terminar, até que enfim eu recebi respostar do meu coordenador italiano do intercâmbio! Essa semana eu devo encontrar com ele para compilarmos juntos o meu plano de estudos. Ah, e depois eu ponho fotos aqui do apartamento novo! Eu queria ter tirado algumas hoje, mas tava bastante nublado e achei melhor deixar pra outro dia.

E me desculpem se o texto ficou cansativo com todas essas vírgulas e parênteses, mas foi o melhor jeito que consegui por em palavras o meu estado mental de ontem. :P

domingo, 26 de setembro de 2010

Mais notícias atrasadas (redigidas ontem)

Desde que cheguei, os dias tem sido um pouco caóticos, parece que todo início de intercâmbio é mais ou menos assim. Entre saídas com amigos recém-feitos, coisas a resolver na universidade e busca por um apartamento, o pouco tempo que me resta em casa é dedicado quase que exclusivamente a dormir. No entanto, venho deixar-vos a par da minha situação geral em Bologna.

Pra começo de história, eu penso em Bologna como a 'Cidade dos Pórticos', pois eu nunca havia visto nada semelhante aos pórticos que substituem os passeios aqui, ou então 'Terracotta City', devido à tonalidade semelhante de grande parte dos edifícios.



Depois da longa viagem e de um bom descanso, não quis perder tempo no meu primeiro dia na Itália. Comecei a explorar a cidade a pé, visto que absolutamente plana, comprei um chip de celular italiano e achei a região onde de encontram os prédios da universidade. Durante o processo de registro no Diretório de Relações Internacionais (que foi feito sem problemas), conheci dois brasileiros; uma moça que trabalha na copiadora onde tirei um xerox do passaporte e um rapaz com cara e nome de alemão que estava atrás de mim na fila, na universidade. Este me convidou para ir a um 'aperitivo' (uma promoção que alguns bares e cafés fazem de noite, em que se paga um determinado valor por uma bebida e pode se servir do buffet) onde haveria um encontro de intercambistas. Ruma ao tal aperitivo, me deparei com... uma brasileira! Conhecida, ainda por cima! Era uma integrante da Flutuar que tinha vindo para cá fazer alguma apresentação, pelo que me lembro. Mais tarde, no café, fui abordado por uma russa animada, com quem fiz rápida amizade e que me apresentou a seus amigos de várias nacionalidades. Em seguida, fomos a um bar/boate onde tinha um outro encontro de intercambistas e sangria grátis até 1h! Interessante é que as músicas que tocam aqui são as mesmas das boates de BH, em sua maioria. Saldo final do dia: três brasileiros, duas russas, uma espanhola, dois franceses, uma holandesa, um irlandês, dois tchecos, uma dinamarquesa, uma cipriota e nenhum italiano!

No dia seguinte, alguns de meus recém-amigos me convidaram para um almoço. Senti-me tão chique, comprando um vinho branco para levar como contribuição! O francês preparou um risoto delicioso, e olha que eu nunca gostei de risoto no Brasil! Depois de muita conversa, risadas e conhecimento mútuo, acompanhei a espanhola quando foi buscar seu carro na oficina. Para chegar ao nosso destino, pegamos um ônibus sem pagar, o que representou a minha primeira ilegalidade italiana! Nos ônibus da Europa, não há trocador, apenas uma máquina onde se pode comprar uma passagem e outra onde você pode validar o seu cartão de ônibus pré-adquirido. Se você não fizer nenhum dos dois e nenhum 'controllore' subir no ônibus, ótimo. Caso seja pego, a multa pesa um pouquinho no bolso. De volta a casa, os brasileiros com quem estou ficando estavam preparando um jantar e fui convidado a participar. Mais tarde, mais uma festa para intercambistas! Dessa vez em outra boate muito bacana, mas que abria pela última vez, para se despedir do verão...

Quinta-feira, com o celular já funcionando, comecei a cansativa procura por uma metade de quarto. Pelas ruas nos arredores da universidade, há trilhões de anúncios de quartos em aluguel pregados nas paredes. Comecei a ligar para vários, mas no final das contas só consegui visitar três. Infelizmente, não consegui o que mais me chamou a atenção, mas procura continua... À noite, encontrei uma italiana semi-conhecida que acabou de voltar do intercâmbio no Brasil, assim como outras duas italianas que falavam português e duas brasileiras. Comemos pizza, bebemos cerveja, conversamos com desconhecidos, essas coisas que fazem os jovens! Quando meu celular tocou (e eu atendi com um 'pronto!' razoavelmente italiano), tive uma surpresa: era mamãe! Não aguentou de saudade nem uma semana...

Ontem, conheci 'il mercato di Montagnola', uma feira estilo a da Afonso Pena (eu imagino, porque a esta eu nunca fui) onde se vende de tudo a preços baixíssimos! Lá, pode-se encontrar desde cuecas, casacos e tênis até cortinas, panelas e pasta de dente. Senti uma mistura de medo, atordoamento e empolgação e já percebi que eu vou ter que estabelecer uma regra pessoal: apenas uma compra por dia, senão vou ter que voltar mais cedo pro Brasil! À noite, um esquema parecido com os dias anteriores. Amigos estrangeiros, aperitivo, caminhadas pela cidade e, dessa vez, conheci uns italianos. Bolonheses, ainda por cima, algo raríssimo.

Hoje o dia começou cedo e a busca por apartamentos foi ferrenha. Liguei pra sei lá quantos números e visitei seis apartamentos, três dois quais me interessaram e cujos ofertantes ficaram de me dar uma resposta em breve. Já marquei uma visita para amanhã e continuarei procurando outras oportunidades. Como cada apartamento era em um canto da cidade, andei bastante e essa atividade ocupou praticamente todo o meu dia. Agora vou tomar um banho e procurar alguma companhia para a noite de sábado!

Ciao!

PS: Esqueci de falar do clima. Quando cheguei, fazia um solão e um pouco de calor de dia, enquanto a noite era levemente fria. Agora, com a chegada do outono, o abaixamento da temperatura é perceptível e começa a se fazer necessário o uso de casaco.

Cheguei!

(Na verdade, já faz uns dias que eu cheguei. Mas, agora que eu criei o blog, vou postar aqui os emails que mandei pra família.)


Olá, família e amigos!


33 horas, três voos e alguns reais e euros depois de ter saído de BH, pude, enfim, dizer que cheguei. Por incrível que pareça eu não achei a viagem tão cansativa assim, talvez por causa da intensa vontade que eu sentia de estar na Itália e começar logo essa experiência. O primeiro (na verdade, o único) contra-tempo foi a infeliz notícia que tive ao registrar os equipamentos eletrônicos no aeroporto do Galeão. Descobri que, ao contrário do que eu e minha mãe interpretamos pelo site, caso uma pessoa seja parada pela alfândega ao retornar ao Brasil, serão isentos de impostos somente os aparelhos que constarem na Declaração de Saída Temporária de Bens assinada pela própria pessoa. Ou seja, a questão do meu computador permanece, ainda, sem solução. Mas isso eu vou resolver com calma, com a Tia Ângela e Tio Ricardo.

O voo do Rio para Frankfurt passou relativamente rápido. Ao meu lado, sentou um homem de cara fechada e poucas palavras. Nem trocamos nomes. Fiquei impressionado com a variedade de opções de entretenimento individual disponíveis, havia filmes, programas de TV e músicas de vários gêneros (inclusive álbuns completos de vários artistas), só não agradaria a quem realmente não quisesse. Consegui dormir por umas seis horas, assisti a Homem de Ferro 2 e ouvi músicas boas sem gastar a bateria do meu iPod. As refeições também me surpreenderam, quem disse que comida de avião é horrível? O jantar foi carne de panela ao molho madeira, acompanhada de purê de batata, abobrinha cozida, salada de alface, tomate e queijo (com um sachêzinho de vinagrete temperado), pão com manteiga e um bolinho misterioso, mas muito gostoso, de sobremesa. O café da manhã teve uma saladinha de frutas, um sanduíche de presunto e ovo (identifiquei o segundo ingrediente na minha boca e, realmente, continuo não gostando de ovo) e um pãozinho com manteiga.

Conheci uma gaúcha simpática na entrada do avião, depois nos reencontramos saindo para o aeroporto de Frankfurt. Ela está indo a Zurique encontrar o namorado, mas não sabia nada de alemão e quase nada de inglês. Tomei a liberdade de ajudá-la a passar pela área de imigração (embora eu estivesse em uma fila separada, para cidadãos europeus, huhu) e encontrar seu portão de embarque. Depois de nos separarmos, eu estava, mais uma vez, à toa. Explorei um pouco o aeroporto (que é IMENSO), mas sem me aventurar muito longe do meu objetivo: meu próprio portão. Os restaurantes e lanchonetes de lá são tão bonitinhos, mas os produtos eram caros, como esperado. Aproveitei que estava na Alemanha e comi um ramen (sopa típica japonesa)! Agora, o mais legal do aeroporto foi ver alguns funcionários indo para lá e para cá, andando de bicicleta (daquelas bem românticas, com cestinha) com cara séria e pose de gente ocupada.

Por fim, o aeroporto de Bologna me fez lembrar daquilo que dizem, que a Itália é o Brasil da Europa. Não aconteceu nada de mais não, só as malas que demoraram a aparecer. Foi mais por causa da cena, um monte de gente amontoada perto das esteiras imóveis, impacientes e ansiosos para pegar suas bagagens e ir embora. Eu não conheci quase nada da cidade, mas já deu pra ver que ela é muito simpática enquanto estava no taxi, vindo do aeroporto. Embora não estivesse tão movimentada, vi pessoas conversando em cafés e passando pelas ruas e praças.

Agora que eu estou em 'casa', vou tomar um banho e ver se durmo, pra tentar não sofrer muito com a mudança de fuso horário.
Ah, não se acostumem com emails desse tamanho e com esse nível de detalhe! Os primeiros três parágrafos foram escritos em Frankfurt (seguindo recomendação/súplica da mamãe), porque eu tava bodando.

Beijos e abraços!